WORKSHOP GEOPARQUE: Chapada dos Guimarães fornece água para a Capital enquanto vive racionamento
- Assessoria de Comunicação
- 22 de out.
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Especialistas alertam que geologia do perímetro urbano e volume de pessoas na alta temporada agravam a situação

Nascentes de Chapada dos Guimarães (a 67 km ao norte de Cuiabá) são responsáveis pelo abastecimento de água da Capital, enquanto a cidade de pouco mais de 18 mil habitantes possui pouca disponibilidade hídrica, apontam especialistas. Essa contradição se explica por características geológicas do território chapadense, agravadas por eventos climáticos extremos e pelo aumento da demanda em alta temporada, como shows, finais de semana e feriados.
“Quem abastece cerca de 50% da cidade de Cuiabá, em quantidade e qualidade de água, é a região da cidade de pedras, em Chapada dos Guimarães, com as nascentes do Rio Coxipó, que vem do Aquífero Guarani. Além disso, boa parte da Água do Rio Cuiabá também vem dos rios de Chapada, que possuem origem no mesmo aquífero. E esses rios todos são importantes, não só para Cuiabá, como também para o Pantanal”, afirma o professor da UFMT e presidente da Febrageo, Caiubi Kuhn.

Esse grande reservatório é extremamente resiliente em períodos de seca, por ser uma região de alta recarga hídrica - quando a água da chuva infiltra no solo. “Em locais como na Cidade de Pedra, é possível ouvir a água surgindo das nascentes que vem do subsolo nessa região”, afirma o especialista. Rios como Salgadeira, Paciência e outros, se formam das águas que saem do Aquífero do Guarani.
Já o perímetro urbano da cidade está assentado sobre uma formação geológica com baixa capacidade de recarga com as chuvas, chamada de Formação Ponta Grossa. É aí que está o problema. A captação superficial nos rios fica prejudicada na seca, deixando moradores dias sem água.
Cleberson Ribeiro de Jesuz, geógrafo, professor da UFMT e diretor do Instituto de Geografia, História e Documentação (IGHD), alerta que o avanço de condomínios em Chapada também pode afetar o abastecimento de Cuiabá.

“Quando você vem de Cuiabá para Chapada vê muitos condomínios sendo abertos. Ali há nascentes que passam pelo Véu de Noiva e correm direto para o Rio Coxipó. O uso dessa água traz consequências, e se você pensa no sistema como um todo, isso impacta diretamente Cuiabá, que é abastecida pelo Coxipó”, detalha o pesquisador.
Com base em estudos, uma mudança de concepção no planejamento da captação de água e o novo Plano Diretor do Município, são soluções. A cidade está sendo preparada para, no futuro, chegar até a 50 mil habitantes e vive um boom de construções, afirma o prefeito de Chapada, Osmar Froner.
“A parte geológica é complicada, nós temos água aqui no Guarani mas ele está distante da cidade, e as fontes de águas na região urbana estão relacionadas a rochas que não são bons aquíferos, ou seja, não consegue armazenar nem disponibilizar, grandes quantidades de água”, destacou.
O desafio é dar sustentabilidade para o crescimento da cidade. “Então, o que nós vamos fazer para dar sustentabilidade a 50 mil habitantes daqui 10 anos, 20 anos? Primeira coisa, água. Segundo infraestrutura, lazer. Chapada já tinha vários loteamentos abertos sem construção, mas esse despertar, eu acho que após a pandemia, o cidadão despertou para ter refúgio, usar mais espaço, que tem as características da Chapada de clima, de paz, de natureza, e essa corrida foi muito forte”, detalha o gestor municipal.
A discussão sobre o tema ocorreu na palestra “Águas em Chapada, onde tem, onde quase não tem?” durante o V Workshop Geoparque de Chapada dos Guimarães, realizado na última sexta-feira (17), na Câmara Municipal da cidade.
O encontro foi promovido pela Febrageo, Geoparque Chapada dos Guimarães e Associação dos Geólogos de Cuiabá (Geoclube), com apoio da Prefeitura Municipal, Agemat e Singemat. O patrocínio é do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Mato Grosso (Crea-MT).
O evento contou também com a presença do deputado estadual Wilson Santos e o diretor financeiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-MT), Darci Lovato.

Programação – A mesa “Os fósseis de Chapada dos Guimarães” abriu as discussões com a Profª. Dra. Silane Aparecida Ferreira da Silva Caminha e o Prof. Dr. Rogério Roque Rubert (UFMT).
O Prof. Dr. Dener Toledo Mathias (UFMT) apresentou a palestra “Geomorfologia de Chapada dos Guimarães e região”. O Prof. Dr. Daniel Fernando Queiroz Martins (IFMT) discutiu “A última gota d’água? O futuro do turismo no Geoparque de Chapada dos Guimarães frente à crise climática”. A mesa “Geoparque de Chapada dos Guimarães, cenário atual e passos futuros” encerrou os debates técnicos com Alexandre Eustáquio, secretário de Turismo e Meio Ambiente do município.




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